sábado, 25 de abril de 2015

poemorfose n.11

Meu giz
de cera vermelha quebrou
-quebrou, eu emprestei, gastou,
o que importa?- quebrou.
Morfeu, adormecido, aqui ao meu lado
sonha que perdeu a letra que lhe dá forma.
M
orfeu agora
quase sempre
canta. Unge sua garganta com mel
e pastilhas; enche a cara...
Orfeu agora
quase nem
sonha. Nutre-se do leite azul
das bacantes; rememora:
um coração que bate
junto a um coração que para;
um pedaço de carvão, uma lasca,
um gume ou a ponta, uma brasa;
na pele rabiscada de poemas,
um poema rasga a pele,
arranha fundo e raspa uma letra
assustada.
Orfeu agora
grita. Debate em si sua existência,
devora a letra, aceita-a, reforma-se.
M
orfeu, acordado, aqui ao meu lado,
escorre seu dedo por minhas costas.
Morfeu só escreve em vermelho,
mas meu giz quebrou ou
emprestei ou gastou...
Então Morfeu me arranha
cava em minha pele meu próprio giz
e rabisca
um poema roubado:
"Espirales en descenso. Roto el sueño
queda el desierto. La arena ruge,
el cielo se desata. Hasta la luna llora
ante tal silencio."



(Interferência de Matheus Passos)

domingo, 8 de março de 2015

poemorfose n.10

quase sempre busquei pintar-me
de vermelho
invejo o mundo e a impossibilidade
de parir
não tomo pílulas
não preciso
meus pensamentos ampliam-se
como folhas empilhadas

morfeu, você dorme
e não acorda

morfeu
- amor fera
pijama
está na hora de dormir
e você continua dormindo

morfeu
- relógio apita
está na hora de acordar
e você continua acordado


morfeu morfeu morfeu
oh morfeu
por que não me rabisca
qualquer poema?
morfeu morfeu
você conheceu
qualquer capuleto?

gire-me e rabisque-me
com giz




(Interferência de Claudinei Sevegnani)

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

poemorfose n.09

Sempre quebrei unhas pintadas de vermelho 
(invejo homem e mulher, Morfeu, e me importo)
Não sei se as pílulas da vida são azuis ou vermelhas
As pílulas são
A vida embriaguez 
Sei que tanto isto (s) e muito aquilo (s) 
Meus pensamentos silenciam
Morfeu, você dorme 
Oferta-se a um oráculo ou alguém os desligou?
(Acorde-me na hora errada)


cerveja ou vinho
vida ou morte
(Morfeu? É um fechar de olhos, no escuro no silêncio) 
não há quem limpe a vida
mas há vômito por toda parte
sou meu próprio faxineiro 
esfrego-me torço-me jogo-me 
e alimento-me dos restos de substâncias entorpecedoras 
limpo-me de mim e me sujo
sou o duplo de tudo que tenho em tudo que falta

mas enquanto dormes, Morfeu
não há pílulas, não há entorpecentes, que me deem vida em morte

Gritem-me e me tirem daqui 




(Interferência de Luciano da Silva)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

poemorfose n.08

nunca pintei as unhas de vermelho
(invejo Morfeu
e não me importa se era homem ou mulher).


penso as pílulas:
azul ou vermelha
dentro ou fora da matrix
não sei se meus olhos abrem ou fecham
não sei se vejo
não sei se isso ou isto
não sei, Morfeu, não sei
leve-me ao oráculo ou desligue-me da máquina
ou desligue-me
(desligue-me agora).

dentro ou fora da matrix
(Morfeu não dorme, mas eventualmente silencia)
não há insetos. não há gatos. não há cachorros.
no reflexo narcísico
sou eu meu próprio bicho de estimação
e lavo-me
e bebo-me
e alimento-me de substâncias fictícias
encho-me de mim e me esvazio
sou meu excesso e minha falta.

mas quando sonho
não há pílula, não há máquina, não há matrix

que me tire do infinito.



(Interferência de Gleise Reis)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

poemorfose n.07

Morfeu pintava as unhas de vermelho
            (nem era mulher)
Morfeu consumia barbitúricos e tarjas pretas
            (gritava com a boca fechada)
Morfeu se olhava no espelho e nem se via
de olho no teto, na telha, na teia
da aranha (a forma é clara)
que tece poemas
            (vomita poesias)
um corte fundo no claro verde
            (poemorfose)
cresce, cresce, cresce
            (forma-se)
um buraco fundo no claro verde
            (reforma-se)
bebe, bebe, bebe
            (a forma escura)
a luz
            (as pupilas do gato
            os olhos verdes do gato)
como eu bebo
            (sonho beijos e esqueço)
os silêncios de Morfeu



(Interferência de DON'T KILL THE CHICKEN)

sábado, 17 de janeiro de 2015

poemorfose n.06

Morfosepositividade
(na idade de uma mulher adulta).

A forma é clara
e magra
e fluida
e muda.

Tudo é muito,
mas se tenta
com os braços
esticados,
exaustos
de agora.
Com a ponta dos dedos,
com as unhas pintadas de vermelho.

Agora, positividade,
agora, sim,
o agora dilatado
(como as pupilas dos gatos).

Poemorfose,
morfologia,
mitologias,
Morfeu.
Dorme-se o sono dos justos
depois de cometer um poema?

(Morfeu consumia barbitúricos e tarjas pretas)
(Morfeu nem era uma mulher adulta)
(nem pintava as unhas de vermelho).




(Interferência de Lorena Grisi)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

poemorfose n.05

Morfosepositividade
                    (na idade de uma criança)
Reativo
Retroativo
Criativo
Ato-liberto-passivo de uma aliança
a metalinguagem em eterna meta

                                                                                  morfose.
                    (talvez não haja fim que sustente o texto. 
agora já é palavra, desde a primeira letr

Objeto corpóreo que se consolida
Num descontrole revolucionário de pele, beijos e cuspe

Tudo-nada
      é uma farsa
Tudo-quase
      uma etapa viva
Tudo-a-tapa
      violência
Tudo-a-calma
      insone inocência
      que devora no meio do caos
              a poesia
      que devora o meio
              com teoria
      que devora o caos
              a insolente.


(Interferência de Cecilia Guimarães)