domingo, 8 de março de 2015

poemorfose n.10

quase sempre busquei pintar-me
de vermelho
invejo o mundo e a impossibilidade
de parir
não tomo pílulas
não preciso
meus pensamentos ampliam-se
como folhas empilhadas

morfeu, você dorme
e não acorda

morfeu
- amor fera
pijama
está na hora de dormir
e você continua dormindo

morfeu
- relógio apita
está na hora de acordar
e você continua acordado


morfeu morfeu morfeu
oh morfeu
por que não me rabisca
qualquer poema?
morfeu morfeu
você conheceu
qualquer capuleto?

gire-me e rabisque-me
com giz




(Interferência de Claudinei Sevegnani)

Um comentário:

  1. Meu giz
    de cera vermelha quebrou
    -quebrou, eu emprestei, gastou,
    o que importa?- quebrou.
    Morfeu, adormecido, aqui ao meu lado
    sonha que perdeu a letra que lhe dá forma.
    M
    orfeu agora
    quase sempre
    canta. Unge sua garganta com mel
    e pastilhas; enche a cara...
    Orfeu agora
    quase nem
    sonha. Nutre-se do leite azul
    das bacantes; rememora:
    um coração que bate
    junto a um coração que para;
    um pedaço de carvão, uma lasca,
    um gume ou a ponta, uma brasa;
    na pele rabiscada de poemas,
    um poema rasga a pele,
    arranha fundo e raspa uma letra
    assustada.
    Orfeu agora
    grita. Debate em si sua existência,
    devora a letra, aceita-a, reforma-se.
    M
    orfeu, acordado, aqui ao meu lado,
    escorre seu dedo por minhas costas.
    Morfeu só escreve em vermelho,
    mas meu giz quebrou ou
    emprestei ou gastou...
    Então Morfeu me arranha
    cava em minha pele meu próprio giz
    e rabisca
    um poema roubado:
    "Espirales en descenso. Roto el sueño
    queda el desierto. La arena ruge,
    el cielo se desata. Hasta la luna llora
    ante tal silencio."

    ResponderExcluir